JORGE SANTOS
REPRESENTAVIDADE NA ROÇA
Jorge, poderia nos contar um pouco sobre
sua jornada como um jovem gay fortaleceu na roça? Como foi sua experiência em
se assumir nesse ambiente?
Óia… falar um trem procê viu, no começo foi nada fácil! Houve retaliação familiar e no ambiente de trabalho. Com o tempo, memo eu se escondendo por medo de piadas ofensiva, eu sempre vivi quieto, isolado e sem amigos. Minha família sempre morou no mato e eu sempre acompanhei eles. Sempre fui alegre e divertido em qualquer lugar e isso ajudou a preservar amizades de colegas independente da orientação sexual e trabalho. E isso permanece igual nas redes sociais. Nunca precisei me “assumir”, foi algo natural.
Como as pessoas da comunidade na roça reagem à sua orientação sexual? Eles aceitaram e apoiaram?
Infelizmente o ramo do agronegócio é um ramo extremamente preconceituoso! Mais claro, o sol brilha pra todos! Então é possível sim viver num ambiente poluído com homofóbicos e machistas. Se ocê não quer sofrer nenhum preconceito pelos jeito seu, ou pela forma sua de falar e agir, é necessário as vezes “fingir” quem realmente ocê é quando estiver numa roda de viola entre colegas de trabalho. E se sentir que aquele lugar está desconfortável procê, é só levantar e escolher pessoas com quem ocê tem mais confiança e liberdade para conversar.
Como surgiu a ideia de se tornar um influenciador digital? Como você vê seu papel como influenciador na abordagem da diversidade sexual na roça?
Tudo começou há 2 meses atrás quando a TV Globo entrou em contato mais eu… querendo fazer uma entrevista para o Globo Rural com o tema diversidade no campo. Após a matéria ser exibida, milhares de pessoas que é apaixonado pelo campo ou que vive na mesma situação que eu, começaram a seguir eu no Instagram. Agora aproveito esse movimento de rede social para fazer vídeos respondendo comentários preconceituosos e críticos vindo de “héteros” que diz pra nois LGBT não estragar a tradição rural. São vídeos engraçados, humorísticos, irônicos de forma que prende a atenção dos seguidores.
Com mais de 70 mil seguidores em suas redes sociais, você alcançou uma audiência especial. Como você usa sua plataforma para educar e promover a acessibilidade da diversidade sexual?
Todos os dias recebo inúmeras mensagens dos seguidores, mensagens de carinho, apoio e de afeto. Recebo mensagens de pessoas desabafando parte de sua história pessoal, pedindo conselho, e até elogiando a forma que uso o Instagram para fazer publicações que promove o respeito e a diversidade no campo. Tento mostrar a todos que gay não nasceu só pra brilhar! Nasceu pra cultivar, plantar, cuidar e criar…
Quais são algumas das maiores dificuldades que você enfrentou ou ainda enfrentou por ser gay na roça? Existe algum desafio específico que gostaria de compartilhar?
Sou um jovem muito discreto, seja no falar, na aparência e na vestimenta. Isso ajuda um pouco a equilibrar os desafios que os “machões brutos” que de dizem pai de família tradicional, colocam no caminho. Nunca sofri algum “preconceito” na roça, mais sempre tem aquelas piadas de colegas que as vezes alimenta uma mistura de homofobia nas brincadeiras. Acho que o desafio meu é continuar as vezes fingindo que sou gay para não levantar muita poeira no curral, pros peões depois não crucificar eu pelo que sou.
Onde você nasceu e como foi crescer nesse ambiente rural? Isso influenciou alguma forma de sua identidade como pessoa LGBTQ+?
Nasci
dentro dum campo de futebol… Pode não parecer né! Meus pais eram caseiros de um
campo de futebol na cidade de Uberaba MG. Desde então até meus 12 anos, eu
sempre ajudava meu pai a cuidar e preservar o campo. Limpava as cabines, vestiários
e jardins. Posso tá enganado, mais esse tipo de vida desencadeou meu interior
por gostar de homens! Eu era o responsável pra ajudar a limpar os vestiários
após uma partida de futebol. Entregava toalhas e sabonetes para os jogadores,
eles andavam nu na minha frente, mais pra eu aquilo era tudo novo! Diferente!
Eu tava conhecendo na verdade como era um corpo masculino.
Você já cometeu preconceito ou discriminação na roça devido à sua orientação sexual? Como você lida com essas situações?
Na internet nóis sabe que isso é um mundo onde ninguém é dono de ninguém! Por esse motivo, pessoas usam as redes sociais para atacar, difamar e espalhar ódio. Sempre quando vejo algum comentário desse tipo, eu excluo na hora. Gosto de comentários relevantes nas minhas publicações!
Qual conselho você daria para outros jovens LGBTQ+ que vivem em áreas rurais e podem enfrentar desafios semelhantes aos que você enfrentou?
Seja ocê memo! Mais vai com calma se oce mora na roça! Pois as vezes pode não ser o momento certo procê sair do armário, ou ser quem realmente ocê é! Eu sei que dói! Mais espera… vai chegar o momento certo! Se precisar ir pro mato chorar, vai. Se ocê sentir confiante no ambiente e nas pessoa são seu redor, então provavelmente pode ser um sinal de ocê pode se abrir aos poucos com as pessoas sobre sua opção sexual! Claro que isso não é uma obrigação dizer sobre as escolhas suas! Então, escolhe as pessoas certas para conversar.
Como sua família e amigos reagiram quando você se tornou gay? Eles foram um apoio importante para você?
Pelo fato de nunca precisar assumir nada pra ninguém sobre minhas escolhas e orientação sexual, muitos até já desconfiavam. Mais tiveram a certeza memo quando apresentei pela primeira vez meu namorado. Tive apoio e não tive ao memo tempo! Principalmente da família! Toda vez que meu namorado ia pra casa, todo mundo saía pra rua e só voltava quando ele ia embora. As vezes, só conversam com ele porque eu mendigava atenção da minha família pra conversar com ele. Dava pra vê que eles não se sentia bem… Mais hoje em dia tá tudo bem! Vivemos em paz e eles aceitam de boa.
Além de sua atuação como influenciador, você está envolvido em alguma iniciativa ou organização que promova a diversidade sexual ou ofereça apoio à comunidade LGBTQ+ na roça?
Enquanto a “FAMA” ainda não me encontra, eu continuo aqui… fazendo vídeos amadores e caseiros para meu Instagram. Divulgando a diversidade rural de forma carismática e educado, sem ofender à aqueles a quem nos ofende nas redes sociais por sermos gays da roça. Sem ter nenhuma referência ou ídolo a quem eu me inspirasse, eu tento levantar a bandeira do agro LGBT sozinho por enquanto… mais eu sei que não estou sozinho nessa luta! Quase 70 m pessoas tá junto mais eu! Infelizmente não participo de nenhuma ong, ou organização que ofereça apoio à comunidade LGBT seja no campo ou não. Mais estou disposto a servir e ajudar!
Fotos de acervo pessoal de Jorge Santos instagram @89jorgesantos